sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vazia

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Não vá embora...

Deixe a noite ser calma ao menos hoje. Vem, deita, se afoga no meu perfume, que amanhã cedo juro que não te perguntarei nada. Deixa eu sentir o seu calor mais um pouco, que é néctar para minha alma. Permite meu coração bater no velho descompasso por mais alguns segundos, antes que a rotina esmague-o.

Deita comigo, que a Lua ainda está alta...

Me concede essa dor, esta dose de humanidade que me permite respirar mais um pouco. Me envolve no teu fogo, me queima, me machuca, mas fica. O frio da noite é pior. A dor da solidão me leva a insanidade. O vazio dentro do meu corpo é muito mais perigoso que suas inconseqüências.

Não me deixe...

Não posso impedir a sua partida, mas que você tenha consciência de que sem você irei definhar. Sempre soube que essa hora chegaria, mas nem por isso descobri o que fazer...

Fica comigo amor! Não me abandone o coração sentimento louco! Porque pior que a dor de amar e não ser amado, é a dor de nenhum amor carregar...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Romances

5
Hoje parei minhas tarefas diárias e me permiti alguns segundos de silêncio, deitada na cama e admirando o teto do meu quarto...

O silêncio durou pouco. Logo vieram memórias que gritavam seu nome no meu ouvido e fui embriagada por suas lembranças. O calor de seu abraço, o macio de sua pele, o delírio do seu beijo...

Por que tentou me deixar?

Abandonei a razão por alguns segundos e me permiti um momento de auto-flagelação lendo as cartas que você me mandou quando ainda éramos namorados, sentindo cada palavra como um sussurro seu no meu ouvido e uma pontada no meu peito. Não demorou para a primeira lágrima cair.

Pertencemos um ao outro.

Éramos um casal perfeito. A saudade era quase a morte, e vinha algumas horas após o seu perfume se dissipar do meu travesseiro... Meu amor por você é implacável e desafiaria todo o mundo por mais um segundo ao seu lado.

Mas tudo mudou.

Me levantei e fui até o jardim, e me sentei perto das tulipas brancas que decoravam uma cruz com o seu nome.

Mas você tentou ir embora, então tive que te prender para continuar ao seu lado querido... Te amo mesmo assim.

domingo, 11 de abril de 2010

Realidades

4
Tive a alegria de descobrir que um nanocontista mora na mesma cidade que moro.

Fiquei muito feliz!

Já me imaginei trocando e-mails com ele, conversas, trocas de idéias para textos, dois escritores conversando sobre o que o mundo já está cansado de falar ao pôr-do-sol (tudo isso patrocinado pela Disney, que eu só fui descobrir que fazia mal depois de 18 anos).

Por que estou feliz?

Depois disso, o pensamento começou a voltar pra cabeça. Por que motivo eu fiquei feliz? Tenho alguns amigos que escrevem e admito que adoraria conhecer mais pessoas com esse hábito, mas eu nunca falei com o tal escritor! A realidade começou a entortar o sorriso que antes era o brilho do meu rosto. Vi alguns textos dele e gostei do que vi, mas apenas li o que ele escreve, só conheço seu eu-lírico... E o eu-escritor? Poderia tanto ser uma pessoa maravilhosa como mais um na multidão... Isso claro, assumindo que ele não digitou "fim do mundo" no Google e apareceu a minha cidade...

Fui dormir... Sonhar com Machado de Assis, Clarisse Lispector... E me dei conta, do que sempre me acompanhou...

Um elogio "normal" (não sei mais o que o estimado leitor entende como normal) é meus amigos lerem um texto meu e comentarem "Nossa, digno do Veríssimo", "Você é a minha Lya Luft" e eu fico feliz com isso, por eu ter elevado esses autores a um patamar apenas superado pela própria divindade! Ser Victoria não me satisfazia, eu queria uma receita já garantida para ter esse status imaginário, que seria invocado apenas por um nome que me atribuíssem...

Aí, meu eu-lírico apareceu e sussurrou:
- É fácil admirar quem não conhece, não?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sexo: Feminino

3
Neste momento estou desconsolada com o meu gênero. Não sei para onde foi a essência feminina ou em que ela está (i)materializada. Ações, conversas e opiniões que hoje escuto me mostram o tanto que a mulher se vandalisa.

O que faz uma mulher?

Vejo humanos do sexo feminino (não sei se são mulheres) enclausurados numa bolha rosa-lilás, sem nenhuma noção de mundo, perdidos em valores distorcidos rindo de uma situação que romanos chamariam de "pão e circo". Esquecem valores que existem para ajudá-las e para que se veja a beleza feminina atrás de "olhos de ressaca", a graça do "corpo de curvas esguias", a delicadeza dos "cabelos desgrenhados", a "beleza simpática" do rosto de cada uma.
Nascemos todas iguais, mas para algumas parece faltar uma certa dose de realismo... Muitas teimam em sentar e esperar o cavaleiro no cavalo branco para lhe salvarem de todos os seus problemas e que apenas assim serão realizadas...
Dizem a elas que não há necessidade de aprender; elas acreditam.
Dizem a elas que não há necessidade de criticar; elas acreditam.
Dizem a elas que não há necessidade de se valorizar; elas acreditam.
Dizem a elas que não há necessidade de amar; (pasmem) elas acreditam.
Dizem a elas que não há necessidade de pensar; elas... morrem?

Cadê mulher que tava aqui?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nascimentos e Mortes

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Leonardo

6h30
- Ah... Mais um dia! Mas hoje será o meu dia! Será o dia em que mudarei a minha história e a história do mundo! Hoje farei com que me reconheçam. Já está tudo sonhado. Meus objetivos estão traçados. Os planos estão feitos. Basta colocar em prática.

7h00
- Roupa perfeita! Aparência de um líder! Nada pode e nem irá me deter! Irei expor tudo o que está dentro da minha mente. Verão do que sou capaz. Me darão o Nobel da idéia e... Nobel da idéia? Bom, se ele não existe aproveito e crio ele...

7h30
- Ok... Está próximo. Agora apenas este trânsito me separa do meu objetivo. Um mísero obstáculo. Nada ficará em meu caminho. Nadaa!! Talvez míseros 40min de espera...

8h30
- Leonardo, o Sr. Clóvis quer o relatório pra ontem e depois quer que você refaça as autenticações da semana passada inteira e lhe entregue até o fim da tarde...
- Claro... Claro...

E assim morre um Leonardo da Vinci e nasce um Leonardo Silva

Saudades...

1
E o pior sentimento do escritor é saudade da inspiração.