quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Bar cheio de amores vazios.

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O pensamento em você me leva pro bar. O auge dos clichês hollywoodianos pode ser resumido num bom pé na bunda. Só de pirraça mudo a bebida que costumo pedir, afinal, a última vez que a bebi foi com você. Até meus vícios você roubou. Meus olhos nublados, pra você não navegar minha alma no meio deles. Seria constrangedor você perceber o quanto eu te desejo depois de tudo o que aconteceu. Eu estava quieta, num oásis emocional: sentia um grande e imenso nada. Estava calma, não sentia estas palpitações, a insônia não era minha companheira (pensando bem, talvez estivesse no deserto e não entendesse). Não interessa o fato que antes de você eu estava vazia, esse vazio não me doía. Era um vazio de garrafa se preparando pra receber o vinho, de boca ansiando língua. Você me preencheu, me transbordou para depois me privar de tudo isso. Pra quê ser apresentado ao paraíso se só está aberto pra visitas? Simples: para a caminhada sobre a terra se transformar num inferno de solidão. A caminhada antes bastava, para frente bastava. Eu não ligava para os excessivos tons de cinza a minha volta. Não existia o êxtase, mas também não havia a depressão. Agora meu mundo tem cores cuja única função é me empalar com a saudade. O âmbar me lembra dos seus olhos, a turmalina os seus cabelos, a castanha tua pele. E sigo caminhando, amaldiçoando todo o mundo, que insiste em me afogar na tua lembrança. A cerveja ajuda a descer. Você foi um dos maiores golpes que o Fado deu no meu coração. O desgraçado perscrutou minha mente, viu o que eu entendia como “ideal” e me apresentou todas as minhas aspirações contidas num corpo, numa alma. Numa boca que eu podia jurar que fazia o tempo parar quando se encontrava a minha. Teu olhar me desnudava, e eu, consciente, gostava disso. E então, meu anjo perfeito se mostrou quebrado. E então, tudo mudou. E eu, então, resolvi que tudo bem. Ninguém chega inteiro, certo? Queria te buscar no meio da tempestade que se encontrava, e te dar um norte. Queria ser o seu norte. Rachaduras servem pra luz entrar, certo? Toda alma pode ser resgatada. Certo? O Fado queria me ensinar uma lição: eu não sei o que é melhor para mim. Tudo que eu idealizei se mostrou um monstro. Subestimei a natureza humana. Esqueci que as pessoas tem uma paixão recalcada pelo horrendo, pelo feio, por tudo que é condenado nas eternas regras castradoras que nos permitem viver em sociedade. Acho que essa paixão me guiou até este bar. E aqui estou eu, com uma multidão de pessoas, me balançando num ritmo “bate-estaca” na esperança de que em alguma dessas batidas, meu coração se reanime, que qualquer álcool me inebrie os sentidos, pra eu não sentir tuas formas, tuas cores, teu calor, teus beijos... Tuas saudades.