quarta-feira, 30 de março de 2011

Eu + Tu = Nós

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Quando eu e tu nos somamos e viramos nós?

Quando eu mandei mensagem pra tu não esquecer meu cheiro?
Quando tu dissestes que gostava da minha mania de velar teu sono?
Ou quando nós começamos a rir no meio da cozinha sem motivo?

Quando eu beijei teus olhos antes de partir?
Quando tu mordestes minha orelha?
Ou quando nós dormimos de conchinha?

Quando eu cozinhei teu prato favorito?
Quando tu chorastes na minha frente por saudade?
Ou quando nós dormimos vendo estrelas?

Quando eu liguei para te lembrar do casaco que tu esquecestes?
Quando tu destes bronca em mim por esquecer lingerie dentro do chuveiro?
Ou quando nós dançamos sem música?

Quando a matemática fez sentido?
Quando nos cansamos de conjugar verbos na 1ª pessoa do singular,
e a 1ª pessoa do plural ficou tão agradável?

segunda-feira, 7 de março de 2011

Não existe mais bacalhau do porto

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- Isso não é bacalhau! Não presta...

Sabe uma pessoa mala? Era meu bisavô.
Sim... Era.

Pra ele bacalhau do porto e azeite de oliva eram duas lendas. Era tudo atum e óleo composto (azeite misturado com óleo de soja). Mas mesmo assim, exceto a minha avó que comprava e cozinhava o bacalhau, todo mundo ria.

Muito do que era normal, também se transformou em lenda. E continuamos rindo de tudo isso.

Meu bisavô contava de uma época em que todos davam bom dia na rua a desconhecidos. Se alguém me dá bom dia hoje, já começo a imaginar até quintas intenções do sujeito. Entro no ônibus e aumento o volume das minhas músicas, ordenando que meus fones calem meus pensamentos e ceguem meus olhos.
Ando de cabeça baixa.
Raramente aceito ajuda.
Não me atrevo a manifestar um sorriso.

Qualquer tentativa de interação pode e será encarada com hostilidade, a menos que te conheça.

E penso que isso tudo é normal. Que todos são assim... Talvez sejam.

Ou talvez as poucas exceções à regra desfrutem de um bom bacalhau do porto com azeite de oliva aos domingos com a família.